" O corpo é infinitos pontos, é uma linha, é uma onda, um oito infinito, um círculo … A base da minha coreografia é que os bailarinos estão sendo movidos. No Japão temos muitos espíritos, eles estão em todas as partes. Eles estão cheios de energia vital e os encontramos em movimentos como do vento. No palco eu deixo me mover pelos espíritos através da imaginação. A minha fonte de energia é um pequeno sol, situado no Tan-Den, o centro do meu corpo. Minha coreografia é ao mesmo tempo lógica e irracional, o que significa que todos os sentimentos tem uma forma física.Quando notas que há dentro de ti um parasita faminto, vivendo das tuas memórias, então alimenta-o bem com o teu corpo até, num crescimento constante, ele tenha devorado tudo de ti. Então, deixa ele dançar. Isto é tudo." Minako Seki
Na mesma semana que iria conhecer a bailarina japonesa Minako Seki, radicada em Berlin, assisti ao documentário do alemão Win Wenders, sobre o estilista japonês Yohji Yamamoto. O documentário levanta questões sobre identidade, pertencimento, sobre quem nós somos, mas principalmente sobre a vida e o processo criativo. Yamamoto, artista da efemeridade da moda, questionava-se sobre o que as pessoas querem, o que elas gostam, como vivem. Curiosidade pelas vivências, pelos rostos, pelas roupas. A criação de roupas tendo como base os movimentos, buscando a não simetria.
Minako Seki, bailarina japonesa pertencente à terceira geração de dançadores de butoh, esteve em Porto Alegre a convite do Centro Meme, para ministrar um workshop sobre suas buscas. Conheci uma artista do corpo que também faz as mesmas perguntas, que também questiona-se, que olha para dentro e respeita seus fantasmas, que busca e trabalha esta “paisagem interior”. Ela denominou o seu estilo de dança como “Dançando no entre” ou “Dancing Between“,que proporciona infinitas possibilidades de criação de movimentos.
Então eu penso que essa dança poderia ser o “entre a” consciência e a imaginação. Consciência de que que estamos num planeta, de que somos influenciados pela gravidade, de que estamos nele, mas somos ele ao mesmo tempo. Imaginar nossa paisagem interior - landscape ideal - lá onde você sabe que está conectado com você mesmo. Consciência de nossos fantasmas. Eles são a nossa memória. Do corpo, das experiências vividas, das nossas lembranças. Mas não era para buscar entender, interpretar, era para brincar. Assim como uma criança numa loja de brinquedos, você deixa essa energia vital, o “tan den”, tomar conta de você e começar a brincar. Brincar com a existência, com os seus fantasmas.
Patricia Soso e Minako Seki logo após o encontro |
Todo esse movimento buscava descobrir novas paisagens, descobrir a minha
própria landscape. O movimento e o dançar como meio de acesso a novos
lugares e possibilidades. O movimento como sinônimo de mudança. Não há
mudança sem movimento. Pensei que todos estamos em busca de um desenho,
de uma filosofia, de um modo de estar no mundo. Voltei a lembrar das
palavras iniciais de Win Wenders em seu documentário:
“We change languages,
we change habits,
we change opinions,
we change clothes,
we change everything,
everything changes. And fast. Images above all".
Imagens e paisagens. Landscapes. Que respiram, que vivem.
Por Patricia Soso
Atriz, performer e pesquisadora.
Para ver e saber mais:
http://www.youtube.com/watch?v=7XLQXefHhiM (Documentário Identidade de nós mesmos, de Win Wenders (1989 - “Notebook on cities and clothes”)